terça-feira, 29 de abril de 2008

Coisas estranhas às vezes acontecem,
e nos perturbam.

Como não nos perturbar com elas?

As percebemos estranhas,
mas as mantemos conosco,
escondendo nossa razão
sob um vulto de fé
em que nem nós mesmos cremos.

No fundo,
nem nós mesmos cremos.

Nunca acreditamos, deveras,
mas nos iludimos,
e vivemos disso durante pasmos de tempo.

Voltamos a nós, subitamente,
e nos vemos sós.

Racionais, mais fortes,
e, de novo, sós.

Súbitos de vida não passam, ora
de súbitos:

curtos, convulsivos,
instantâneos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Temos medo de nos olhar de frente.
Por isso,
falamos mal de nós mesmos,

pelas costas.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tempos

Tempos remotos,
de vidas remotas,
de vidas minúsculas.

Tempos que passam pela janela,
que vêm com o vento,
que trazem poeira
e memórias.

Tempos de andanças,
de guerra,
de cartas trocadas
de antigas paixões

Tempos de mudanças,
de nuancias,
em nós, mesmos.

Tempos de resguardas,
de medos,
de ansiedades,
de velocidades,
e de fluxos.

Tempos passados...

Tempos de surtos.
Tempos de loucura.
O nosso tempo...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Poema Para Manhãs Chuvosas

Cinzas, cinzeiros e cinzentos.

Névoas sobre prédios de rocha
mortos,
insípidos.

Manhãs nebulosas
de chuva fina
e fria.

Como corações sem dono,
corpos desalmados,
profecias incorretas.

Manhãs de idéias vagas
que vagam por mentes intranqüilas
e vagam...

Manhãs de amores não correspondidos,
de nostalgias incorrigíveis,
de desejos de corpos,
de aconchego
em seios aonde deitarmos nossas mentes
e dormirmos.

Chuvas finas
que nos infiltram de medos,
de calafrios, inseguranças,
que nos atermentam
com suas tormentas ingênuas.

Manhãs de alegrias simples,
de infâncias felizes
e quentes, sob carinhos.

Manhãs de sorrisos singelos,
de pensamentos ciganos,
de olhares pela janela,

de sonolências.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Caminhadas longas
por pisos desnivelados
e becos úmidos.

Caminhadas sem direções.

Caminhamos atrás de coisas que não sabemos.

E quando as encontramos,
não as reconhecemos.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Amores à distância
corroem bem de perto,
nos sufocam,
nos tomam as forças.

Nos iludem,
fantasiam alegrias
em mentes sedentas de idealismos.

Amores à distância
nos fazem crianças,
nos transformam em enerias,
nos põem em sinergia
com almas desconhecidas.

Amores à distância
maltratam nosso espírito,
inspiram nossos corpos,
corrompem nossos pensamentos,
nos transformam em carne.

Amores à distância
são vulgas paixões,
atormentadoras,
desconcentrantes,
desconcertantes.

Amores à distância
são a vida nas veias
de quem pensava poder domá-la.

Amores à distância, pois,
que me levem!
Que me iludam, que seja,
mas sobre o seio de quem me tem
mais que em pele,
mas completamente.

sábado, 5 de abril de 2008

A uma Trash Girl...

Um brinde também, minha querida,
a ti,
e à vida!

Que nos cria coisas estranhas,
antes tão perto,
ao lado,
mas invisíveis.

E agora
tão distantes...

Um brinde à vida!

Que nos sacaneia com surpresas surreais,
que nos salva de descrenças,
que nos faz crer nela novamente,
mesmo que timidamente.

Um brinde a vocês, mulheres!

Suas filhas da mãe que nos sugam,
que nos tomam nossas forças,
quando mais as afastamos,

e nos põem no colo.
Ah, nos põem no colo...

e nos acariciam,
nos fazem ver que somos, nada mais,
que um brinquedo,

da vida.

Um brinde à vida, Vagabundos,
um brinde à vida!

Que nos reconhece como nada,
que humilha nossos orgulhos,
nossas palavras de ordem.

Que nos põe como meninos
frágeis,
carentes,
solitários,
em mãos de mulheres,
que nem conhecemos.

Ah, Vagabundos...
Um brinde à vida, um brinde à vida...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Vidros estilhaçados
por pedras sem origens.

Homens paridos
de ventres sem dono.

Séries de existências sem causas,
de impactos sem força motriz,
de movimentos sem inércia.

E as vidas seguem,
sem razão.